A Polícia Civil, com apoio da Brigada Militar, deflagrou nesta quinta-feira (11), a Operação Truck Hunters, em uma série de cidades gaúchas. O objetivo é neutralizar um grupo criminoso especializado no furto de caminhões. Ao longo de dois anos, o grupo combinou furtos de veículos de cargas com extorsão das vítimas e operação de desmanche em escala industrial. Os alvos eram caminhoneiros e empresários do ramo do transporte.
Ao todo, a ofensiva prendeu 20 pessoas. A Polícia Civil cumpriu 78 ordens judiciais, sendo 28 mandados de prisão preventiva e 50 mandados de busca e apreensão. Além disso, houve apreensão de armas, caminhão e drogas.
As cidades com mandados durante a operação são São Leopoldo, Novo Hamburgo, Viamão, Gravataí, Canoas, Guaíba, Porto Alegre, Capão da Canoa, Tramandaí, Portão, Alvorada, Sapucaia do Sul, Mariana Pimentel e Santa Maria.
A DRFC (Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Cargas) e a DRCOR (Delegacia de Repressão ao Crime Organizado) lideraram a ação. Elas fazem parte do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais).
Investigações
A investigação teve início em 15 de setembro de 2023, quando uma denúncia anônima levou policiais militares a um galpão na Estrada João de Oliveira Remião, em Viamão. No local, a polícia flagrou três indivíduos realizando o desmanche de um caminhão. Os agentes também encontraram, na ocasião, um automóvel comumente usado em crimes, além de outros dois caminhões completamente adulterados, reboque e diversas ferramentas.
Duas semanas depois, em 29 de setembro, a investigação ganhou novo impulso quando outra operação policial descobriu um segundo ponto da organização criminosa. Na ERS-020, em Gravataí, policiais localizaram outro galpão onde criminosos mantinham um caminhão em processo de preparação para desmanche. Durante a fuga precipitada, um dos criminosos deixou cair um aparelho telefônico, sobre o qual os policiais se detiveram em anélise.
As investigações subsequentes revelaram uma “operação criminosa de impressionante sofisticação e alcance”, nas palavras da Polícia Civil.
“A organização funcionava como uma verdadeira empresa do crime, com departamentos especializados, hierarquia rígida e procedimentos operacionais padronizados que permitiam furtar, extorquir e desmanchar caminhões com eficiência industrial”, diz a nota da investigalção.
A cadeia de comando
Conforme as investigações, a cadeia de comando do grupo criminoso era composta por quatro indivíduos. Um deles, de 45 anos, com 15 passagens policiais, atuava como o “cérebro criminoso”. Ele coordenava desde a identificação dos alvos até a venda final das peças, além de fabricar pessoalmente as chamadas “chaves-micha”, usadas para dar a partida nos veículos de carga.
Outro indivíduo, com 19 antecedentes policiais, atuava como o braço operacional, tomando decisões sensíveis e supervisionando as ações de campo. O terceiro membro era especialista nas atividades de planejamento dos furtos e na extorsão sistemática das vítimas. Por fim, o quarto indivíduo assumia o papel de controlador financeiro, indo desde os pagamentos aos criminosos, até todas as transações ligadas à prática criminosa.
Além dos líderes, o grupo criminoso contava com 15 executores especializados nos furtos. A célula chegou a ter uma rede de contatos com postos de combustíveis, que os informava sobre caminhões carregados e seus horários de parada, além de atuarem no aluguel de galpões usados para o desmanche.
Os alvos
Conforme o trabalho de investigação policial, os alvos dos criminosos eram caminhões carregados com cargas valiosas como ração animal, materiais de construção, produtos eletrônicos, dentre outras. Os veículos transitavam, especialmente, na BR-116, ERS-122 e demais vias importantes.
Após identificar o potencial alvo, o grupo analisava o veículo, fazia levantamento fotográfico do entorno, planejava rotas de fuga e monitorava a presença policial, entre outras ações. Após, com o uso das “chaves-micha”, os criminosos abriam os veículos sem precisar arrombar.
Depois de furtarem os veículos, os criminosos passavam para a etapa da extorsão, pedindo entre R$ 5 mil a R$ 100 mil de “resgate” aos proprietários, dependendo do modelo do veículo e da carga. Desesperadas, muitas vezes, as vítimas pagavam os valores exigidos. Já aqueles que não efetuavam os pagamentos, tinham os veículos encaminhados para os galpões de desmanche, onde, em muitos casos, um caminhão inteiro era desmontado em menos de 12 horas.
Os criminosos adulteravam as peças e as encaminhavam para o membro do grupo criminoso que possui uma empresa que atua no ramo de transportes e aluguel de caminhões em Guaíba. O indivíduo redistribuía as peças para diversas cidades gaúchas. Também, havia membros que falsificavam documentos, emprestavam veículos para o cometimento dos crimes, entre outras ações criminosas.
As investigações apontam que mais de 50 ocorrências policiais tinham vínculo direto com os membros do grupo criminoso. No registro constam dezenas de caminhões furtados em diversas cidades gaúchas e centenas de vítimas extorquidas. A polícia mapeou as ações criminosas de fevereiro de 2023 até abril deste ano.