Em pleno 2025, infelizmente, ainda parece besteira bater na tecla de que representatividade importa. Algo que já deveria estar intrínseco em nós, mas que precisamos ressaltar.
Estamos evoluindo? A passos lentos, mas estamos. Porém, não é novidade para ninguém que vivemos em uma sociedade baseada no patriarcado, onde o homem é o provedor e a mulher, submissa, cuida do lar e das crianças. Isso não seria um problema se a estrutura familiar fosse construída tendo como base o cuidado e o respeito mútuo. O que muitas vezes não é o que acontece. O homem pensa que, por estar bancando o lar, não tem obrigações. Logo, acredita que a mulher está lá para servi-lo.
Sabemos que, apesar de estarmos evoluindo como sociedade, a mulher ainda é vítima de muitos infortúnios. Não vou entrar em muitos detalhes para evitar gerar gatilhos negativos. Mas a verdade está aí, a um clique de distância ou até mesmo em uma conversa.
Como se não bastasse passarem por diversas adversidades, as mulheres negras parecem ter um caminho em dobro a trilhar. “Ah, Thiago, você está exagerando”. Será mesmo? Pense no seu convívio diário. Quantas mulheres estão ocupando espaços de destaque e importância nas empresas, na política, em diversas outras áreas? Agora, quantas dessas mulheres que você conseguiu lembrar são negras?
Representatividade não é exagero, é necessidade
Sou muito grato pela criação que tive. Desde pequeno fui instruído a tratar as pessoas de forma igualmente respeitosa, independente da classe econômica, do gênero ou da cor da pele. A isso sou grato à minha família, por ter me dado uma educação que carrego até hoje. Mas quantas pessoas têm essa mesma visão? De que todas as pessoas merecem respeito?
Até a noite de ontem, a representatividade parecia algo distante. Hoje temos grandes artistas negras incríveis em diversas cenas. Enquanto escrevo, me vem à mente quando Whitney Houston esteve na produção de um filme em que Brandy foi a primeira Cinderela negra. Vocês conseguem perceber o peso e a importância de algo assim em 1997? Uma época em que, majoritariamente, os filmes tinham elencos brancos e colocavam personagens negros em papéis cômicos ou inferiores.
A própria Disney só apresentou sua primeira princesa negra muitos anos depois. Lembro também, com tristeza, das polêmicas quando anunciaram um live-action com uma atriz negra. Isso em 2023, quando já se dizia que havíamos evoluído como sociedade. Será mesmo?
Voltando ao Brasil, quantas mulheres negras não precisam correr uma milha a mais para se comprovar à altura das demais? Hoje, na política, temos a deputada Erika Hilton sendo atacada de diversas formas, mas sempre reforçando a importância de termos mulheres negras ocupando espaços de decisão.
Exemplos que marcam a luta por representatividade
A noite de ontem foi um grande marco. Parece que nossas referências de mulheres negras estão sempre longe de nós, em outro país ou estado. Mas o autor Carlos Penna Rey nos trouxe essa realidade para perto, convidando-nos a conhecer a história de grandes mulheres do nosso Estado. O pré-lançamento do livro “Negras Mulheres Gaúchas, Gaúchas Mulheres Negras”, que ocorreu nesta sexta-feira (5) no Plenário Ana Terra, da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Um evento lindo e que, mais uma vez, trouxe uma verdade muito necessária para os dias atuais. Aliás, o próprio autor se colocou como coadjuvante, garantindo que as “estrelas da noite eram elas”.
Dentre as diversas falas, uma me tocou muito: a de não querer ser a primeira e única a ocupar esses lugares. Nós não conquistamos nada sozinhos. Esses espaços precisam ser ocupados por mais e mais mulheres. Elas estão sendo pioneiras? Sim, mas não serão as únicas.
Você precisa conhecer essas histórias
As pessoas precisam conhecer as histórias das dez personagens que fazem parte do livro. Mulheres que inspiram, que mostram seus desafios na nossa sociedade e como chegaram onde estão e que outras podem chegar lá e ir – muito – além.
Um questionamento foi levantado ontem: queremos fazer parte desse movimento ou apenas assistir como meros espectadores? Acredito que “Negras Mulheres Gaúchas, Gaúchas Mulheres Negras” é uma leitura necessária. Um livro para estar nas escolas, para ser acessível a todos, e que pode nos ajudar a andar em passos menos lentos rumo a uma sociedade melhor.
O lançamento oficial do livro ocorre no dia 13 de setembro, às 19h30, na Livraria Cameron, no Shopping Bourbon Wallig. Foi um privilégio poder participar do pré-lançamento. Que noite linda e marcante. Deixo aqui meu muito obrigado a essas mulheres negras incríveis e convido todos a conhecerem suas histórias.